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O estranho pires na mão

05/12/2012 Compartilhar Twitter


Aos olhos de muitos observadores, do sindicalismo à política partidária, passando pelo senso de economistas, a matéria 'Estado só pagará 13º se economia crescer' passou batida na penúltima edição deste semanário. Passou, mas não deveria ter passado. E não deveria ter passado por trazer em si alguns aspectos curiosos e temerosos da vida administrativa de Sergipe.
A advertência de que uma das principais obrigações do Estado - a de pagar o 13º a mais de 70 mil barnabés entre ativos e aposentados - está sob perigo de não ser cumprida, foi feita pela maior autoridade sergipana depois do próprio governador Marcelo Déda, que é o secretário de Fazenda João Andrade, o homem por trás do governante número um. O dono da chave do cofre-grande. "A situação financeira do Estado ainda é apertada, de modo que as receitas estão direcionadas exclusivamente para cumprir os compromissos dentro do mês, sem folga de caixa", advertiu Andrade, logo de largada.
O compromisso do 13º salário implica um desembolso de R$ 310 milhões a mais na calha financeira do Governo. Se este não é um 'compromisso dentro do mês', o é dentro do ano. E dele o Estado, regiamente, não pode jamais fugir. O estranhamento vem exatamente daí: onde anda a capacidade gerencial de Sergipe frente às finanças públicas?
O que terá acontecido com Estado de Sergipe que, do meio do segundo governo de Déda em diante (2009 a 2010) jactava-se de ter estocado em caixa mais de meio bilhão de reais e que hoje não dispõe de R$ 310 milhões para pagar uma folha extra que, de tão natural, nem é tão extra assim, posto que está no cronograma do erário desde que o erário é erário? O que acontece com Sergipe que, num momento em que todos os indicativos da economia do país apontam crescimento, o Governo daqui diz decrescer? Aliás, decrescer só nas finanças públicas, porque no geral estranhamente o Governo diz que o Estado tem o segundo maior crescimento do Nordeste, perdendo só para o Rio Grande do Norte, que anda disparado.
Na mesma matéria que por alguns passou batida, havia um alerta sério de alguém que conhece por dentro a máquina financeira do Estado, seu conteúdo, seu quantitativo de arrecadação, sua capacidade operacional. Este alguém é Marcos Correa Lima, um dos auditores encastelado no Sindat: "O secretário da Fazenda tem que parar com esta mania de pregar o caos, de fazer terrorismo", disse. E deu um diagnóstico diferente do que veio no choro estatal: 'no geral, a receita corrente cresceu 13,7%'.
Portanto, onde está a crise? Onde está a dificuldade de assumir e resgatar os compromissos? O Governo do Estado está gerindo mal a sua parte financeira, está informando mal ou os meios de mídia não estão sabendo ler bem o que se passa no fundo do erário? Quem está certo: Correa Lima ou João Andrade? Na semana passada, o Governo de Sergipe festejava o fato de o governador Déda ter conseguido a promessa de um empréstimo de US$ 150 milhões do Bird - Banco Mundial - para programas de ordem social. Dentro do diapasão da Sefaz, que explicita miséria com os compromissos de hoje, é para rir ou para chorar com mais esta fonte de custo que representará um empréstimo de US$ 150 milhões a ser deduzido do pouco que o Estado já dispõe? Este estranho pires na mão carece de maiores explicitações.

(Editorial da edição 1479 do jornal Cinform, publicada em 15 de agosto de 2011)

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